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A música no processo de aquisição da fala de crianças de 0 a 3 anos.

Atualizado: 29 de mar.


Baseado no texto de Oliveira e Migon (2023)

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A música tem um papel fundamental na aquisição da linguagem oral em crianças pequenas, especialmente entre 0 e 3 anos. Estudos demonstram que a música e a fala compartilham processos cognitivos semelhantes e que os elementos musicais, como ritmo, melodia e entonação, influenciam diretamente o desenvolvimento da comunicação oral (Ilari, 2002). Desde a vida intrauterina, os bebês já são capazes de perceber sons e ritmos, o que reforça a importância da exposição musical desde os primeiros meses de vida (Hepper, 1991; Wilkin, 1995 apud Ilari, 2002).


De acordo com Silva (2007), a aquisição da linguagem ocorre de maneira gradual, passando por diferentes estágios. Nos primeiros meses de vida, os bebês produzem sons pré-linguísticos, como balbucios e vocalizações, que carregam padrões rítmicos semelhantes aos da fala. Entre 12 e 36 meses, as crianças começam a construir um repertório linguístico mais estruturado, aprendendo palavras e pequenas frases por meio da imitação e da interação social. O que muitos estudos apontam é que esse processo pode ser facilitado quando a criança é exposta a estímulos musicais frequentes (Ilari, 2005).


A prosódia, isto é, a "melodia da fala", desempenha um papel crucial na compreensão e produção da linguagem oral. Boysson-Bardies (2009) explica que a entonação e o ritmo são os primeiros aspectos percebidos pelos bebês e que esses elementos ajudam na segmentação da fala, permitindo que eles diferenciem palavras e padrões sonoros. Dessa forma, a música auxilia no reconhecimento de estruturas linguísticas e na memorização de palavras e expressões.


Segundo Souza e Barros (2016), a neurociência confirma que a música ativa ambos os hemisférios cerebrais, estimulando conexões neurais essenciais para a fala e a cognição. O estudo de Ilari (2005) destaca dois mecanismos fundamentais para esse processo: a impregnação, que ocorre quando o cérebro da criança absorve padrões sonoros e rítmicos sem esforço consciente, e a imitação, que permite a reprodução desses padrões musicais e linguísticos. Esses mecanismos facilitam a estruturação da linguagem e aprimoram a comunicação infantil.


Além disso, a musicalidade está presente na comunicação dos adultos com os bebês, seja por meio da fala afetuosa, das canções de ninar ou das brincadeiras cantadas. Pais e cuidadores frequentemente utilizam melodias e variações de tom para chamar a atenção da criança e reforçar a compreensão da linguagem. Esse tipo de interação fortalece não apenas os laços emocionais, mas também a aquisição da fala, tornando o aprendizado mais natural e prazeroso (Silva, 2007).


A música, portanto, não apenas complementa o desenvolvimento da linguagem, mas pode ser um dos principais impulsionadores da aquisição da fala. A introdução de atividades musicais na primeira infância contribui para o desenvolvimento de habilidades fonológicas, melhora a percepção auditiva e estimula o vocabulário infantil. Como afirmam Flavell e Miller (1999), o desenvolvimento cognitivo está diretamente ligado à diversidade de estímulos recebidos pela criança nos primeiros anos de vida.


Diante dessas evidências, educadores e profissionais da infância devem considerar a música como uma ferramenta pedagógica essencial para a alfabetização e o desenvolvimento da linguagem oral. A implementação de estratégias musicais no ensino infantil pode trazer benefícios significativos, tornando a aprendizagem mais dinâmica e eficaz. Assim, a música se confirma não apenas como uma forma de expressão artística, mas como um recurso fundamental na construção da comunicação infantil e no fortalecimento das habilidades cognitivas.



📌 Referências:

  • Boysson-Bardies, B. (2009). Como as crianças adquirem a linguagem. São Paulo: Martins Fontes.

  • Flavell, J. H., & Miller, P. H. (1999). Development of Children's Knowledge about the Mind. Annual Review of Psychology.

  • Hepper, P. G. (1991). An examination of fetal learning before and after birth. Irish Journal of Psychology.

  • Ilari, B. S. (2002). A musicalidade da fala materna e a emergência da comunicação musical na infância. Revista da ABEM.

  • Ilari, B. S. (2005). Música e desenvolvimento infantil. São Paulo: Peirópolis.

  • Silva, A. H. P. (2007). Aquisição da linguagem e percepção da fala. Campinas: Pontes.

  • Souza, R. C., & Barros, L. F. (2016). Neurociência e música: implicações para o desenvolvimento infantil.Revista de Educação Musical.


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