Por que precisamos repensar o uso da Galinha Pintadinha (e similares) na Educação Infantil?
- aldapaz
- 29 de mar.
- 2 min de leitura
O uso de músicas midiáticas, como as da Galinha Pintadinha, tem se tornado cada vez mais comum nas escolas de Educação Infantil, seja durante atividades diárias, momentos de acolhimento ou em propostas pedagógicas. Mas, por trás do apelo visual e sonoro dessas produções, é fundamental refletir: qual é realmente o papel da música na formação das crianças? Estamos oferecendo arte ou apenas distração? Estamos educando os ouvidos infantis ou apenas ocupando o tempo delas?
Neste vídeo, compartilho algumas reflexões que surgem da minha experiência como professora, pesquisadora em educação musical e também como mãe. A Galinha Pintadinha, assim como outras produções midiáticas voltadas para o público infantil, pode até entreter e criar uma identificação imediata nas crianças — mas isso não garante uma escuta rica, variada ou formativa.
A musicalização infantil vai além do entretenimento A música na infância deve ser vista como uma linguagem essencial para o desenvolvimento integral da criança. Ela está intimamente ligada ao crescimento cognitivo, emocional, social e motor. Teóricos como Edgar Willems, Zoltán Kodály, Dalcroze, Orff e Murray Schafer destacam a importância de um trabalho musical que envolva escuta ativa, percepção sonora, expressão corporal, criatividade e imaginação. Produções como a da Galinha Pintadinha, por mais cativantes que sejam, muitas vezes restringem a experiência musical a um consumo passivo. A criança assiste e repete, mas raramente é incentivada a explorar, criar, improvisar, silenciar ou escutar com profundidade. Além disso, essas músicas costumam repetir estruturas rítmicas e harmônicas simples, com pouca diversidade tímbrica, o que empobrece o repertório auditivo.
Educar os ouvidos é também formar sensibilidade
A formação auditiva na infância é um processo muito delicado. Cada som, cada silêncio, e cada canção que apresentamos à criança desempenha um papel fundamental na construção da sua escuta e na sua conexão com o mundo ao seu redor. Quando limitamos essa experiência a um único estilo ou linguagem musical — especialmente se for algo empobrecido —, estamos restringindo o vasto universo sonoro e estético que a criança pode explorar. É essencial que abramos espaço para uma variedade de gêneros: música brasileira de raiz, cantigas tradicionais, música instrumental, sons da natureza, músicas étnicas, folclore, samba, baião, clássicos da MPB, música erudita, e também criações autorais que sejam pensadas com um propósito pedagógico.
O papel do educador musical
Não se trata de “demonizar” a Galinha Pintadinha, mas sim de assumir a nossa responsabilidade como curadores do repertório que oferecemos às crianças.
O professor que trabalha com musicalização precisa ter um olhar crítico e sensível: o que essa música traz de valor? Que sons ela apresenta? Quais possibilidades pedagógicas e sensoriais ela pode abrir? Apresentar sons diversos, contrastantes e ricos em camadas é uma maneira de expandir o mundo da criança. E mais importante ainda: é uma forma de respeito — à sua escuta, à sua sensibilidade e à sua capacidade de apreciação estética.
Conclusão
Como educadores, temos a missão de educar os ouvidos das crianças para a beleza, para a escuta atenta e para a pluralidade sonora. O vídeo que compartilho aqui é um convite à reflexão, mas também à ação. Que possamos repensar nossas práticas, enriquecer nossos repertórios e, acima de tudo, oferecer à infância o que ela realmente merece: arte de verdade.
Aline da Paz
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